segunda-feira, 11 de outubro de 2010
on the road
[...] Ela tinha capotado finalmente, e jazia deitada num banco de
madeira com as pernas brancas aparecendo sob a combinação de seda. A platéia
da janela aproveitou-se da exibição; por trás deles, as sombras rubras do fim da
tarde começavam a se alongar, e ao longe ouvi o choro de um bebê num súbito
instante de silêncio — afinal, eu estava no México e não no paraíso, em meio a
uma orgia pornográfica de haxixe e fantasias realizadas.
Cambaleamos porta afora, mas nos esquecemos de Stan; corremos de
volta para apanhá-lo, e o encontramos cumprimentando charmosamente as putas
da noite que estavam começando a chegar. Ele queria começar tudo de novo.
Quando está bêbado, ele se move tão pesadamente quanto um homem de três
metros de altura, e é impossível separá-lo de mulheres. Especialmente mulheres
enroscadas em seu pescoço como hera no jardim. Ele insistia em ficar — queria
experimentar as novas, estranhas e por certo mais experientes señoritas do turno
da noite. Dean e eu o agarramos pelo cangote e o arrastamos para fora. Ele
acenou profusamente, despediu-se de todos com a maior euforia — das garotas,
dos policiais, da multidão, das crianças nas calçadas; jogou beijos em todas as
direções, sob ovações de toda a cidade de Gregoria, e, cambaleando
orgulhosamente entre a multidão, tentou falar para transmitir-lhes sua alegria e
seu amor por tudo o que fora maravilhosamente bom naquele delicioso entardecer
da vida. Todos riam; alguns lhe davam tapinhas nas costas. Dean correu,
deu quatro pesos para os policiais, apertou-lhes as mãos, sorriu-lhes e inclinou a
cabeça diante deles. Então, saltou no carro, e as garotas que havíamos
conhecido, até Venezuela, que havia acordado especialmente para a despedida,
se aglomeraram em torno do carro, insinuantes em suas vestes transparentes, e
nos deram adeus e nos beijaram, e Venezuela até chorou — ainda que não por
nós, mas também um pouco por nós, e isso já era suficiente. Meu amor moreno e
obscuro desaparecera no interior sombrio do bordel. Estava tudo acabado.
Caímos fora e deixamos a alegria e as celebrações para trás, recobertas por
centenas de pesos, e de fato aquilo não parecia ter sido um mau dia de trabalho.
O mambo obsessivo nos acompanhou durante uns quarteirões. Estava tudo
acabado. — Adeus, Gregoria! — gritou Dean, jogando beijos.
Victor estava orgulhoso de nós e orgulhoso de si próprio. — Agora vocês
querem um banho? —- ele perguntou. Sim, todos nós queríamos um bom banho.
E ele nos conduziu para o lugar mais estranho do mundo: [...]
Jack Kerouac
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo
-
▼
2010
(183)
-
▼
outubro
(15)
- Da pedra
- Só eu fiquei excitado?
- Ônibus das 6
- O Bixo
- Realidade InTensa
- Abolição do poder
- We feed the world, subtitulos en español. Every ...
- Lado B Barbudo Brabo Barrigudo
- RATM - People Of The Sun - 09/10/10
- on the road
- Ou luxo ou lixo
- Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer...
- Múmia Moderna
- Cronicamente Inviável
- O Paraíso (por Eduardo Galeano) Se nos portamos b...
-
▼
outubro
(15)
http://vimeo.com/11639619
ResponderExcluiraltos video, bom pra voce botarem aqui no menace
é ja foi postado no mes das manifestacoes
ResponderExcluirlegal mesmo o video...
http://menacemovimento.blogspot.com/2010/05/quem-nao-pula-quer-tarifa.html