Categorias são nosso instrumento de pensar. São conceitos, nomes pelos quais a gente classifica, ordena e atribui valor a tudo aquilo com que se entra em contato. No começo, bom e mau são categorias básicas mesmo, porque derivam dos aferidores fundamentais (que afundam) da nossa consciência: prazer e desprazer.
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"Mais ou menos" e "ainda não sei" estão aparecendo como categorias intermediárias, em aberto, observadoras, curiosas, sem o descarte nem a adesão automáticos que os julgamentos sumários produziam. Categorias intermediárias são as categorias do ensaio. Possibilitam o pensamento, a reflexão, não fecham, deixam em aberto, podem ser revistas, refeitas, não são absolutas, arrogantes, não damos a elas a importância de dogmas, por isso elas é que nos servem, não temos que servir a elas.
Só que a cultura acaba impondo novos critérios de bom/mau quando diz que determinadas coisas dão premio, aplauso, torrão de açúcar e outras dão castigo, desprezo, chibatadas, o que acaba por fazer com que desempenhemos funções desprazerosas só pra evitar a chibatada e ganhar torrão de açúcar. Nessa nova escala de valores o "mais ou menos" e o "ainda não sei" se perdem, porque é preciso decidir logo, fechar logo, aderir logo ou se descartar logo, se o resultado pode ser prêmio ou castigo.
Imagem: vinchen
Texto: Francisgo Daudt no livro O Aprendiz do Desejo
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