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sábado, 5 de março de 2011

nem peço.

e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso



e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa


não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever


mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para


começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso


recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é


o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites miluma-


páginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas


mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever


é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo


descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e


forçoso um livro onde tudo seja não esteja um umbigodomundolivro


um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro


o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo


e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro


é o conteúdo do livro e cada página de um livro é o conteúdo do livro


e cada linha de uma página e cada palavra de uma linha é o conteúdo


da palavra da linha da página do livro um livro ensaia o livro


todo livro é um livro de ensaio de ensaios do livro por isso o fim-


comêço começa e fina recomeça e refina e se afina o fim no funil do


comêço afunila o comêço no fuzil do fim no fim do fim recomeça o


recomêço refina o refino do fum e onde fina começa e se apressa e


regressa e retece há milumaestórias na mínima unha de estória por


isso não conto por isso não canto por isso a nãoestória me desconta


ou me descanta o avesso da estória que pode ser escória que pode


ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende


da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles e nemnada


de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas


e nanjas de nullus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e


nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total


tudossomado todo somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro


e aqui me meço e começo e me projeto eco do comêço eco do eco de um


começo em eco no soco de um comêço em eco no oco de um soco


no osso e aqui ou além ou aquém ou láacolá ou em toda parte ou em


nenhuma parte ou mais além ou menos aquém ou mais adiante ou menos atrás


ou avante ou paravante ou à ré ou a raso ou a rés começo re começo


rés começo raso começo que a unha-de-fome da estória não me come


não me consome não me doma não me redoma pois no osso do comêço só


conheço o osso o osso buço do comêço a bossa do comêço onde é viagem


onde a viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de maravilha


onde a migalha a maravilha a apara é maravilha é vanilla é vigília


é cintila de centelha é favilha de fábula é lumínula de nada e descanto


a fábula e desconto as fadas e conto as favas pois começo a fala

Haroldo de Campos

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