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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Subiu a ladeira, num tem lei pra feira


Eram umas 11 da manhã
no alto do 25,
Eu meio atordoado
Ressaca de abscinto.
Atrás de um bom
que parecia estar extinto,
O clima tava tenso
Dizia meu instinto.
O movimento nunca para,
mesmo com vários na vala,
outra parcela encarceirada,
e a rapa toda cheirada.
Na humildade eu fui chegando
pra comprar o meu fininho.
- "Chegou do amarelo"
Disse pa mim o maninho
Irmão eu quero um 10
pra tosta um do boldinho!
Ele corto o bagulho
e eu saí no sapatinho.
Eu só não advinhava 
quem chegava de mansinho,
os porco tudo armado
desceram do chiqueirinho.
Pra variar,
Boto a arma na minha cara
pra ver se eu peidava
e entegava minha parada.
Mantive a calma
disse: Amigo, num tenho nada.
Foi quando eu senti
o peso da sua quadrada.
Boto mão no meu saco
e achou o meu flagrante,
dava pra ver a maldade
estampada no seu semblante.
Disse que ia me prender,
ia rebocar meu carro
falei: quero ir pra casa
posso acender um cigarro?
"Agora tu perdeu,
dessa vez tu não se salva
Eu invento 50 grama
e te jogo numa jaula!"
Depois de algum tempo
ele foi para a viatura
voltou com um toco na mão
e com a arma na cintura.
Então perguntou:
"E nisso aqui, paga 50?
Falei que não rolava
porque eu tava sem renda.
Sem ligar pra minha resposta,
passou a mão na minha carteira.
Pegou a minha verba
e deu um pedaço da madeira.
"Tu é burro pra caralho
num entende negociação
Vaza daqui otário
não volta tão cedo irmão!"

Storvo

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Não tive tempo pra ter medo



"Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

Carlos Marighella


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nos olhos da juventude


Observando do alto do morro, esse louco jogo
De olho no patrão que ganha muito e paga pouco
Tô vendo mais um irmão indo pro lado do crime
talvez a única opção para a miséria em que vive
É triste, vira piada pra elite
Na ladeira arma, droga e casa de madeirite
Não assiste, estado nem sabe que existe
Abençoado seja aquele guerreiro que resiste
Insiste, correndo atrás do seu sonho
Estou voando pelo meu então por isso componho
Não abaixa a cabeça pra qualquer dificuldade
A caminhada é longa e alguns tropeços fazem parte
Carregue no olhar o brilho da sinceridade
E se puder ajude quem passa necessidade
Só quero nossos direitos, não peço por caridade
Poder viver por inteiro e nunca mais pela metade

Texto: Storvo
Imagem: Ervin Anarchyart