Documentários

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Compras






 


Don’t despair,
just because it’s Christmas.
Children, they’re
all so gay at Christmas. 

All the children on the street
hope they get something good to eat. 

But for me it’s not so great. 

Fuck Christmas! 





terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Inútil



Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para a digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram
E matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Desconfio que escrevi um poema.



Arte: Blu
Poema: Drummond de Andrade

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mais uma dose


    Mais uma dose. Era tudo que ele tinha para tornar sua noite mais agradavel, o vazio de sua alma era proporcinal ao ar dentro da garrafa de wiskey vazia, a fumaça do cigarro entoxicava seus pulmoes e artereas, tudo a sua frente era cinza...fumaça. O gelo estalava no copo, gritando, como que pedindo ajuda, um bote, para se livrar daquela poça de alcool.
    Uma inspiração, um gole, uma queimação que se propagava até o saco... Mas nada parecia ser o suficiente. Dava pra ver as putas da janela...
"Acho que eu vou la.." pensava. Mas tudo que ele tinha no bolso era uma chave e um isqueiro...
"Hum, como se desse pra destrancar as pernas carnudas daquela vadia com uma chave e um isqueiro...foda-se" pensou, "amanha será um outro dia.." e mergulhou novamente em seu copo de wiskey.
Estalando e derretendo.
Até a ultima gota.

Texto: Leprexa Label Melo

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Funke

domingo, 12 de dezembro de 2010





O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não. 



Fernando Pessoa

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

021

Rio, cidade-desespero

A vida é boa, mas só vive quem não tem medo

Olho aberto, malandragem não tem dó
Rio de Janeiro, cidade hardcore.
Arrastão na praia não tem problema algum
Chacina de menores é aqui, 021
Polícia, cocaína, Comando Vermelho
Sarajevo é brincadeira, aqui é o Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, demorô, é agora

Pra se virar tem que aprender na rua
O que não se aprende na escola
Segurança é subjetiva
Melhor ficar com um olho no padre e outro na missa
Situações acontecem sobre um calor inominável
Beleza convive lado a lado com um dia-dia miserável
Mesmo assim, não troco por lugar algum
Já disse: este é o meu lar.
Aqui, 021 “Cuidado pra não se queimar na praia do
arrastão”
É…Rio de Janeiro
“Aqui fazem sua segurança assassinando menor”
É…Rio de Janeiro
“A cidade é maravilhosa, mas se liga, mermão”
É…Rio de Janeiro
“Então fica de olho aberto, malandragem não tem dó”
É…Rio de Janeiro


É muito fácil falar de coisas tão belas

De frente pro mar, mas de costas pra favela
De lá de cima o que se vê é um enorme mar de sangue
Chacinas brutais, uma porrada de gangue
O Pão de Açúcar de lá o diabo amassou
Esse é o Rio e se você não conhece, bacana,
Tome cuidado, as aparências enganam
Aqui a lei do silêncio fala mais alto
Te calam por bem ou vai pro mato
Mas, de repente invadem a minha área, todos fardados
Eu tô ficando loco, ou tem alguma coisa errada?
Brincando com a vida do povo, então se liga na parada
Porque hoje ninguém sabe, ninguém viu.
Um dia alguns se cansam e “pow!”, guerra civil
Porque como diz o ditado, quando um não quer, dois não
brigam
Mas já que ‘cê tá pedindo, segura a ira
Porque a cabeça é fria, mas o sangue não é de barata
Esse é o Rio, mermão, o veneno da lata.


How how how faz o Papai Noel

Pow pow pow e nego não vai pro céu
Digo V de Vendeta, lírica bereta
Black Alien e família, soem as trombetas
Tomando de assalto a cidade que brilha
Mãos ao alto, vamos dançar a quadrilha 288 é formação
de quadrilha
Nome:Gustavo Ribeiro, a descrição do elemento
Primeiro é o olho vermelho, na mente, no momento
Como diz o Bispo, eu sou artista, esse é meu lixo
Acesso ao som restrito aos peritos
O dialeto se dito é um perigo, amigo
Para o consumo da alma sem abrigo
O ritmo e a raiva, a raiva e o ritmo



Cuidado pra não se queimar na praia do arrastão”

É…Rio de Janeiro
“Aqui fazem sua segurança assasinando menor”
É…Rio de Janeiro
“A cidade é maravilhosa, mas se liga, mermão”
É…Rio de Janeiro
“Então fica de olho aberto, malandragem não tem dó”
É…Rio de Janeiro


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Consumismo Te Consome



Havia tempo
e cavamos
manhã cedo
ate anoitecer

pedras rolavam
enquanto o vento
levantava poeira
em redemoinhos

cavavamos todos
em silencio
obedientes
sem nem pensar

assim a vida
e tudo se foi
menos esse buraco
que cavamos pra nada

Foto: Tato Leprexa de Melo (o terrorista que pichou a poesia permanece anônimo)
Texto: Alberto Lins Caldas

terça-feira, 30 de novembro de 2010

The Doors - Roadhouse Blues




Keep your eyes on the road, your hands upon the wheel
keep your eyes on the road, your hands upon the wheel
yeah, we're goin' to the roadhouse
we're gonna have a real
good time
Yeah, back at the roadhouse we've got some bungalows
yeah, back at the roadhouse we've got some bungalows
and that's for the people
who like to go down slow
Let it roll, baby, roll
let it roll, baby, roll
let it roll, baby, roll
let it roll, all night long
Do it, honey, do it
You gotta roll, roll, roll
you gotta thrill my soul, all right
roll, roll, roll, roll
thrill my soul
You gotta beep a gunk a chucha
Honk konk konk
You gotta each you puna
Each ya bop a luba
Each yall bump a kechonk
Ease sum konk
Ya, ride
Ashen lady, Ashen lady
give up your vows, give up your vows
save our city, save our city
right now
Well, i woke up this morning, i got myself a beer
well, i woke up this morning, and i got myself a beer
the future's uncertain, and the end is always near
Let it roll, baby, roll
let it roll, baby, roll
let it roll, baby, roll
let it roll, all night long
Começa o jogo, você é pálido, desperta sangrando e com dores. Primeira respiração sem auxílio umbilical, dolorosa e prazerosa. Apenas uma breve sinopse sobre seu ciclo nesse plano.

Os meses passam, seu raciocínio é expandido em uma progressão geométrica que alguns poucos acreditam ser infinita. Sente a fome, por isso chora. Sente-se sujo, por isso grita! Palavras surgem, são expelidas sem pudor mesmo sem possuírem o menor sentido. Algumas até passam a ter significado com o tempo, outras nem um pouco.

Os anos passam. Abençoado com boa audição ele agora já tem boa comunicação com seus semelhantes. Boa o bastante para finalmente perceber que faz parte desse jogo. Nesse ponto, vê sua criatividade ser instigada por sua própria natureza. Já possui dentro de si a idéia de liberdade, embora as massissas paredes de concreto tentem faze-lo pensar diferente.

O tempo nunca para. E a cada click do relógio interno que carrega no peito, sente-se mais forte e menos vulnerável. Fisica e intelectualmente mais capaz, o agora rapaz tenta se adequar a algum dos moldes à ele impostos desde sua infância. Gera dentro de sí a força necessária para que ele mesmo possa se iludir.

Chega à vida adulta precocemente e sem ao menos perceber vive sozinho, pois assim as ruas lhe ensinaram. A antiga força que alimentava sua alma perde força a cada dia. Não mais se adequa a nenhum molde ou conceito.

É mal visto pelo que fala, mal falado pelo que ouve e não mais ouvido pelo que vê. Seu olhar vermelho e ausente indica que aquele corpo já não mais lhe satisfaz. É um espírito livre, energia em movimento, matéria em decomposição.
 
 
por: João Bertoni


intenso
girando

me torno
rede moinho

me arrebato
na dança

me desfaço
aos pedaços

me perco
sozinho


Alberto Lins Caldas

O FINAL, MENTE?


Hoje, no fim de meus dias de escravidão, 
de meus dias de provedor e macho,
 tornei-me pai de minha morte! 
Logo eu, que não tive filhos, que não tive casa,
 que não tive o deus de Jó!
Logo eu, que tive idéias, que tive filosofias, 
meus sonhos e monstros empilhados,
 como os  textos impublicáveis, 
que guardamos no armário das coisas nulas, 
tornei-me, ultimamente, pai de um fim.
 Daí os versos, daí tudo o mais...
 onde se diz, um dia, e finalmente:
 – Foda-se!

texto: Jõao José

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

To The Whore Who Took My Poems / Para A Puta Que Roubou Meus Poemas



some say we should keep personal remorse from the poem,
stay abstract, and there is some reason in this,
but jesus;
twelve poems gone and I don't keep carbons and you have
my paintings too, my best ones; its stifling:
are you trying to crush me out like the rest of them?
why didn't you take my money? they usually do

from the sleeping drunken pants sick in the corner.
next time take my left arm or a fifty
but not my poems:
I'm not Shakespeare
but sometime simply
there won't be any more, abstract or otherwise;
there'll always be mony and whores and drunkards
down to the last bomb,
but as God said,
crossing his legs,
I see where I have made plenty of poets
but not so very much
poetry.


............................


alguns dizem que devemos guardar um remorso pessoal do poema,
permanecer abstrato, e há alguma razão nisso, 
mas Jezus;
doze poemas se foram e eu não guardo carbonos e você tem 
as minhas pinturas também, minhas melhores; é asfixiante
você está tentando me esmagar como o resto deles?
por que você não toma o meu dinheiro? é o que costumam fazer
da calça de dormir bêbada e doente no canto.
da próxima vez leve o meu braço esquerdo ou cinqüentinha,
mas não meus poemas:
eu não sou Shakespeare
mas alguma hora simplesmente
não haverá mais nenhum, abstrato ou não;
sempre haverá dinheiro e putas e bêbados
até a última bomba, 
mas como Deus disse, 
cruzando as pernas,
eu vejo que eu tenho feito muitos poetas
mas nem tanta
poesia.


Texto: Charles Bukowski
Desenho: Leyla Buk, feito para o filme O Doce Avanço da Faca (Média-metragem, Canibal Filmes, 2010)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Como se fosse a primeira vez

Carrego comigo o peso de uma alma lavada pela água intermitante dos céus. Observando ao redor, acompanhamos ao vivo e em alta definição a morte de soldados, fortemente armados.
Instigado pelo zoodíaco a fomentar dentro do meu ser uma dupla personalidade geminiana. Mas é claro que existe um lado puro e bom, como também um lado mal e sádico, que atordoa seus pensamentos e domina suas atitudes.
Envenenado divinamente, os efeitos da planta sagrada induzem os acasos a determinar seus passos. Eleva-se a temperatura e eu trago, indago. Fecho meus olhos esperando não mais retornar ao mesmo lugar. E é quando cai a máscara que volto ao tempo, em meio a mata, fungos e o sereno.
Com toda tranquilidade que só o desespero trás, assisto de cima da me uma árvore falsos pastores destruirem minha tribo, queimarem meu abrigo, catequização e genocídio. E da mesma forma que vim, outro dia acabo indo. Como quem quis mas não pôde, talvez mudar o destino.

Texto: João Estorvo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pesca Esportiva



     Imaginem um quarto minúsculo de um apartamento menor ainda. Dentro do quarto uma cama, uma TV e uma poltrona, onde o aposentado passava a maior parte do tempo sentado, de camisa aberta e cueca, coçando a enorme barriga, esparramado como uma geléia de carne e pelos. Já estava com 60 ou 70 anos, nem ele se lembrava direito, dia após dia era a mesma coisa, acordar, mijar, sentar e coçar. Trocava de canal aleatóriamente e se entusiasmava com a enorme quantidade de coisas para se ver, lugares para visitar, comidas para experimentar, histórias para se emocionar, tudo ali, diante de seus olhos cansados, porém, esbugalhados e atentos à tudo que vinha de dentro daquela pequena e maravilhosa caixa. 
  Certo dia, numa de suas magníficas tele-viagens ele se viu assistindo um canal de pesca esportiva, não demorou muito e ele já estava lá, em um barco no meio do nada jogando sua isca. Logo mais a frente, outro pescador.
     - Bom dia. - disse o aposentado para seu companheiro de pesca
     - Bom dia!, como vai a pescaria por ai?
     - Hoje o mar não ta pra peixe...
     - Que nada! aqui tem muito peixe, o problema deve ser a sua isca.
     Ele ficou olhando o homem, que já sentia mais uma fisgada em sua vara. - Esse é dos grandes! - disse o pescador. Ele trouxe o peixe até o barco e ficou observando-o com atenção.
     - Você vai levar pra casa?
     - Vou te falar uma coisa sobre pesca esportiva - Disse o pescador - Esse eu acabei de fisgar 5 minutos atrás. Vê? - Disse, apontando a cara esbugalhada e assustada do peixe para seu curioso companheiro - Esses peixes são muito burros, são estúpidos, não tem memória, eu acabei de fisga-lo e ele continua cometendo o mesmo erro. Eu vou ficar aqui muito tempo, porque deixa-lo no barco apodrecendo se eu sei, que mais tarde eu vou conseguir fisga-lo de novo?
Derrepente o homem está de novo em sua poltrona. Ele se levanta, vai ao banheiro, mija, lava o rosto, cospe um pequeno anzol com um pouco de sangue, senta, coça e começa a trocar de canal.


Imagem: Prometo que vou descobrir
Texo: Tomás Melo


Títulos são meras formalidades

"A tua vida é a tua vida
Não a deixes ser dividida em submissão fria.
Está atento
Há outros caminhos,
Há uma luz algures.
Pode não ser muita luz mas
vence a escuridão.
Está atento.
Os deuses oferecer-te-ão hipóteses.
Conhece-las.
Agarra-las.
Não podes vencer a morte mas
podes vencer a morte em vida, às vezes.
E quanto mais o aprendes a fazê-lo,
mais luz haverá.
A tua vida é a tua vida.
Memoriza-o enquanto a tens.
És magnífico.
Os deuses esperam por se deliciarem
em ti."

Charles Bukowski
Imagem: Guinkstoned

terça-feira, 16 de novembro de 2010

¡Ya basta!


Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e agüentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos.


Texto: Sub-comandante Marcos (explicando porque todos os zapatistas dizem que se chamam "Marcos")



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

rascunho queimado


         Compre, obedeça, trabalhe, faça, vá, siga... Quem diz, quem fala, quem manda? Porque assim ? porque assado? Eu tenho minha liberdade! Eu escolho! Eu Tenho? eu Escolho ? Quem sou eu? quem eles querem e me fazem ser? eles? eles quem?  
             Quantas perguntas, quanta falta de resposta.           
           Qual é e de onde veio essa cerca que limita o que digo, o que penso, o que faço. Ao menos, meus sentimentos não, sentimento é coisa minha! Mas, pensando melhor, o amor por exemplo, porque ele tanto respeita cor, idade, classe social, sexo ?
         Será que nasci com um manual que devo cuidadosamente seguir? Ou ao longo de minha vida o constuiram? Hoje comecei a refletir, talvez a primeira página do manual foi escrito quando me vestiram de azul no meu primeiro dia, brinco na minha irmã e em mim não, em seguida me batizaram, me leram historias e descobri que ser bem sucedido é terminar rico ao lado de uma mulher linda, adiantando... cheguei a escola, fizeram filas separando meninos de meninas, recebi notas, aprendi a competir, a vida foi seguindo e continuei aprendendo, aprendendo, aprendendo... meu manual já é extenso, e hoje quero queimá-lo, decidi que não vou esperar a fada azul para deixar de ser um boneco que ajuda a sustentar a sociedade, me livrem das cordas que me transformaram nesse ventríloco. Mas... sem elas como me expresso, como me movo, como me sinto... não a deixem... e além disso eu posso queimar meu manual? eu consigo queimá-lo? Parece que não, mas de qualquer maneira fugi a uma de suas regras, pensei no que não está nele, me questionei sobre ele, a punição é cara, mas estou disposto a pagar por ela.


texto: Pedrão vulgo pau de anão

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sorte ao rei



A maioria dos homens arruína suas vidas por força de um altruísmo doentio e extremado são forçados, deveras, a arruiná-las. Acham-se cercados dos horrores da pobreza, dos horrores da fealdade, dos horrores da fome. É inevitável que se sintam fortemente tocados por tudo isso. As emoções do homem são despertadas mais rapidamente que sua inteligência [...] é bem mais fácil sensibilizar-se com a dor do que com a idéia. Conseqüentemente, com intenções louváveis embora mal aplicadas, atiram-se, graves e compassivos, à tarefa de remediar os males que vêem. Mas seus remédios não curam a doença: só fazem prolongá-la. De fato, seus remédios são parte da doença.
Buscam solucionar o problema da pobreza, por exemplo, mantendo vivo o pobre; ou, segundo uma teoria mais avançada, entretendo o pobre.
Mas isto não é uma solução: é um agravamento da dificuldade. A meta adequada é esforçar-se por reconstruir a sociedade em bases tais que nela seja impossível à pobreza. E as virtudes altruístas têm na realidade impedido de alcançar essa meta. Os piores senhores eram os que se mostravam mais bondosos para com seus escravos, pois assim impediam que o horror do sistema fosse percebido pelos que o sofriam, e compreendido pelos que o contemplavam.


Oscar Wilde

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A ân$ia da ganância


Abro os braços aos abraços da vida, sintetizando a poesia na prática e não em teoria. Vejo direitos serem estuprados, irmãos tratados como ratos, em um futuro próximo o governo seguindo seus passos. Monitoramento de deslocamento e variabilidade comportamental, a manipulação da informação é tão perigosa quanto uma arma letal. Elevo-me e me concentro ao não querer perder meu tempo concentrando renda, há quem em vida não se venda.

Texto:João Estorvo
Imagem: Google-->Imagens--->Greed

sábado, 30 de outubro de 2010

Da pedra

Deixem que explodam
em milhões de pedaços
As estátuas malditas
as eternas visitas
de notórios palhaços

Deixem que afundem
no mar da ganância
maltratam, desprezam
sorriem depois rezam
pra que chege a ambulância

Deixe que se quebre
a algema de ouro
que estuprou seu tempo
tu achou que foi rápido
não sabe o quanto foi lento
como foi o matadouro?


Deixe que queime
afinal ninguém teme carvão
Escravizando minha gente
demente e contente
pois ganhou o presente
de servir ao patrão

Formando uma colônia
leais suditos, um tanto estúpidos
ajudando cegamente os corruptos
da chamada babilônia

por:Leprexal
Foto: da raça

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Só eu fiquei excitado?

Ônibus das 6


6 horas da tarde, ela, mãe de família e mais de 20 almas, umas em pé, fritando seus miolos moles no sol escaldante de verão, outras cozinhando de dentro pra fora naquele ponto de ônibus que mais parecia um instrumento público de tortura. Como se deixar seu próprio filho em casa para trabalhar mais de 10 horas por dia cuidando do filho de outra mãe não fosse duro o bastante.
O ônibus demora a chegar, entre os pecadores estão, velhas e velhos, jovens e moribundos, trabalhadores, prostitutas, religiosos, crianças de colo, pedreiros, vagabundos e empregadas, mas dentro do transporte público, toda esta formalidade e rotulação desnecessária não tem a menor importância, são todos sardinhas de bolsos cheios.
Chega a lotação, e ele vem explodindo de gente, cheio de mais e mais almas zumbis encontradas em muitos outros fornos urbanos espalhados pela cidade. As pessoas caminham para dentro, em fila indiana, como um rebanho de vacas amestradas, prontas para o abate. Lá, ela já sabe o que a espera, é o mesmo destino de muitos ali, uma viajem longa e cansativa até em casa, se debatendo uns aos outros tentando se manter em pé e ao mesmo tempo se esquivando da angústia da espera. Logo mais a frente vê-se mais uma fornalha pronta para embarcar no expresso enlatado. Obviamente, aquilo estava lotado, mas não o bastante para a empresa, afinal, quanto mais e mais vacas entrarem, maior o churrasco do fim de semana.


Tato Leprexa

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Bixo


Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.



Texto: Manuel Bandeira
Fotos: Sebastião Salgado