Documentários

sexta-feira, 27 de agosto de 2010



representando o cerrado

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Vício Geométrico

A coisa mais impressionante que existe são os olhos dos cavalos de carrossel, olhos que parecem estar gritando "avante"! - enquanto eles, nos altibaixos do galope, jamais podem sair do mesmo circulo.




Texto: Mario Quintana
Imagem: Blu

O peso da cruz


Ela jura que é santa, leu a biblia e um mantra
mas libera fácil, e tendo orgasmo ela até canta
isso pouco me espanta, se começou nao desanda
tambem formamos roda mas o que rola nao é samba
prensado ou do solto, eu fumo e fico louco
e vou rimando sempre, mesmo quando já to rouco
minha escolha é nao ter rumo, eu uso e assumo
calma senhor fardado que esse quilo é pra consumo
a minha fé nao tem limite, os seus principios a gente agride
insiste e persiste até que tu se suicide
tiro de misericordia, promovendo discórdia
cansamos de viver como se fosse uma paródia
ou uma encenaçao como as da televisao
que condicionam mentes ao redor dessa naçao
no final das contas eles vao culpar as drogas
mas faltam opçoes para os que vivem das suas sobras
voces se escondem como cobras, se procriam com ovas
eu só vou descançar depois que eu cavar suas covas

Imagem: Guilherme Pedroso
www.flickr.com/pedrosoart
Texto: Estorvo

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Entrevista com Alberto Lins Caldas





1. O que significa para você ser um escritor em um país que vive em um abismo cultural e educacional, onde o analfabetismo total e o funcional são fatos consumados?
absolutamente nada! não considero q ser analfabeto seja índice de nada negativo em si, mas sempre pro mundo do trabalho. ser alfabetizado sempre foi uma questão fundamental pros donos do trabalho, pros patrões, pra formação dos trabalhadores. quanto mais limpinhos (daí a medicina, a biologia), educadinhos (daí as pedagogias), alfabetizadinhos (todos os métodos do mundo), mais bem localizadinhos (daí todas as engenharias), mais dóceis, melhores trabalhadores. por isso essa não é uma questão minha, mas do estado, da nação, da indústria e suas funções.
também por isso não sou escritor. o escritor é mais um funcionário, mais um produtor de mercadoria fina pros letrados e pros senhores dos letrados (seja a igreja, seja o estado, seja o leitor). uma espécie de masturbação de luxo. não miro, não quero melhorar nenhum pais, nenhuma nação, nenhuma língua, nenhum povo: sou contra qualquer país, sou contra o brasil.
também não vejo nenhum “abismo cultural”. esse abismo existe apenas para qualificar mais e melhor os servos pro trabalho. na vida as pontes são criadas e destruídas o tempo inteiro. não é o “abismo” q impede a leitura principalmente porq a leitura jamais foi “liberdadora”, mas tão somente mais um mecanismo de dominação, um agenciador de menores e um leão de chácara dos maiores.
a literatura é uma arma provisória de enfrentamento do horror, desse horror da vida do trabalho.


2. Fale sobre seus livros e sobre a gênese de cada um deles?
meus livros sempre foram o q denomino “enfrentamento do horror”. são armas de guerra contra a grande estrutura do horror (o país, a língua, o povo, o estado, a região, a religião, a escola...). e por ser uma mina múltipla, um vírus, uma arma contra algo eles nascem de um enfrentamento fora do tempo e do espaço: são vírus pra contaminarem fora desse momento e desse lugar: quem fica parado é poste. não me cabe fazer o papel de historiador, jornalista ou sociólogo. a literatura brasileira é perfeita nesse servilismo fundamental. quando é um enfrentamento não é jamais um documento, um índice, um sintoma, mas uma doença, uma insatisfação, um contra-lugar, um contra-tempo. como vão vivo nem viveria de literatura (capachos de poderes q camuflam sempre com uma escrita inocente), não preciso escrever pra leitores, pra editoras, pra livrarias. faço livros como quem cria contradições, cria nós, soltas bombras no meio da rua. qualquer coisa q pareça o contrário disso não é minha literatura.
e em tudo o q exerço minha “visão de mundo” exerço como um deslocado, um ser estranho q vive pra minar o existente, o institucional, o estabelecido: jogo pra quebrar as regras, por não poder estar em outro lugar, outro tempo: aqui e agora é o campo e o momento da luta. por isso não pertenço a nenhum lugar, seja cidade, região, país ou mundo. escrevo como respiro: contra o horror.




3. O que você pensa a respeito dos prêmios literários e da política editorial?
a literatura brasileira nasceu como “projeto imperial” e “projeto republicano”: é uma oligarquia de cento e cinqüenta anos, feita por letrados pra letrados, sempre dentro de cânones estatais, nacionalistas, regionais, localistas, mentindo sempre serem universais (q é o mesmo q ser europeu!). uma literatura capacho e mentirosa q nada enfrenta. não passa das letras dos agregados das casas grandes, dos comércios, das lojas do século xix.
os “prêmios literários” são mentiras pra manter uma corrente de mentiras q faz parecer valer o valor, mas o q vale mesmo é a proximidade (com oligarcas, com grupos, com porções de poderes, com a norma, com as mercadorias). medem apenas os círculos de poder da oligarquia das letras (literatura brasileira, letrados). quanto a “política editorial” é o mesmo da literatura brasileira. a oligarquia das letras enquanto sistema q inclui todos os letrados como cães de guarda da língua, do estado, da história e da nação, só pode fazer uma “política” essencialmente anti-literária, isto é, a favor de uma literatura já estabelecida em todos os seus campos, onde qualquer “novidade” é apenas uma nova mentira.


4. Qual é o centro para o qual converge seu trabalho literário?
sempre parte de um enfrentamento do horror. e converge pra essa mesma ação. por isso não é mimética como toda a literatura brasileira.
é literatura contra a literatura brasileira e tudo q ela representa, contra todas as forças q sustentam ela e dela emanam. por isso é literatura sem centro e sem periferias. é jogo livre de forças contra o horror. um desmantelar as naturalizações e universalizações duma língua q não consegue soltar o colonizador, o patrão, o papa, o senhor das costas.


5. O que é a alma, para você?
absolutamente nada! o corpo e seu momento é o q existe. o corpo e seus jogos de criação de si mesmo e do mundo. o corpo em suas forças, em seus afetos espinosianos, nietzschianos, deleuzianos. alma é um dos conceitos metafísicos próprios dos valores estabelecidos. no meu campo de luta esse conceito é um dos meus inimigos.


6. E a vida?
toda prática e toda teoria q tem a vida como princípio esconde um mecanismo simples: salvar vidas, conservar vidas, manter vidas, defender vidas: valorar a vida tem uma função estratégica e tática, serve pralguma coisa (antes de significar ele serve de algo, serve a algo: ele significa pra servir: é teórico pra ser prático): valorar positivamente e salvar pra trabalhar, se reproduzir, consumir, servir: a escravidão, a exploração, as produções: vida q não trabalha, não se reproduz, não consome, não serve, não é a vida defendida (ou é forçosamente defendida: por extrapolações forçadas: a significação, nesse momento, parece ser essencial: a teoria supera a prática, o sentimento supera o operacional) por medicinas, filosofias, morais, políticas, educações.
toda vida perigosa pra manada não é respeitada, mas eliminada, torcida até servir, silenciada até aceitar. a máquina tribal (ocidentalidade) precisa apenas de vida dócil (ou vida indócil é gerada e insuflada por vários meios quando “necessário”, no mínimo pra ficar como “exército indócil de reserva”). a idéia vida é noção “nazista”, tipicamente cristã-capitalista: mantemos, cuidamos, protegemos, curamos, alimentamos, educamos – pra q isso produza as produções, produza os consumos, produza as reproduções, e sirva: a máquina tribal faz e “sempre” fez o elogio profundo da vida, a prática radical da vida, reflexão necessária da vida pra salvaguardar os poderes, as forças necessárias da máquina tribal.


7. Qual foi o primeiro livro lido por você que foi realmente decisivo ao ponto de modificar sua visão do mundo?
não vejo nenhum livro com esse poder. o q pode é o enfrentamento contra os poderes e seus silenciamentos. os livros fazem parte do horror, são instrumentos do horror, repetições do horror. todos os livros q li faziam e fazem parte do meu enfrentamento contra o mundo, contra os outros, contra o horror. não sou nem jamais fui leitor pra aprender alguma coisa, mas pra discordar, discutir, avançar, ir sempre além do seu campo estacionário.





Alberto Lins Caldas é Mestre em História (UFPE) e Doutor em Geografia Humana (USP). Escritor, ensaísta e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia-UFRO. Publicou os livros Oralidade, Texto e História (Loyola, São Paulo, 1999) e Nas Águas do Texto (2001) sobre História Oral; Litera Mundi (Edufro, Porto Velho, 2002) e Oligarquia das Letras (Terceira Margem, São Paulo, 2005) sobre literatura e literatura brasileira; Babel (Revan, Rio de Janeiro, 2001) e Gorgonas (Companhia Editora de Pernambuco, 2008) que são livros de contos, e Senhor Krauze (Revan, Rio de Janeiro, 2009) que é um romance. Colabora em várias revistas literárias e blogs de literatura e arte. É editor da revista on line Zona de Impacto, especializada em Teoria da História, Literatura, Filosofia, Educação e Arte.


Publicado por Marcelo Ariel
Marcelo Ariel é membro da Resistência Literária Armada, e está pronto pra derrubar o sistema



Fonte: http://www.tremaliteratura.com

domingo, 15 de agosto de 2010

Bucetologia



MUITOS SÃO DOUTORES EM ASTROLOGIA
ALGUNS SÃO DOUTORES EM POLITICAGEM
OUTROS SÃO DOUTORES EM TEOLOGIA
VÁRIOS SÃO DOUTORES EM VIADAGEM
CHICO DOIDO É DOUTOR EM BUCETOLOGIA
OS DEMAIS SÃO DOUTORES EM SACANAGEM

Texto: Chico Doido


http://www.malvados.com.br

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ultimatum

Mandado de despejo aos mandarins do mundo:

Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro.

Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos.

Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir.

Ultimatum a vós que confundes o humano com o popular
Que confundes tudo!

Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar.

Sim, todos vos que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?

Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e coloquem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.

Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.

Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.

O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.

Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.

Álvaro de Campos – 1917

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Vestido como heroi





















De 4 em 4 anos eles querem te fuder
são falsas promessas que nunca vão acontecer
dizem ser políticos, sempre são tão críticos
criminosos sínicos, nem sempre são nítidos
sou procurado da narcóticos, por motivos lógicos
eles desviam verba mas de terno fingem estar sóbrios
eleições para os fantoches que irão nos comandar
no seu mandato o meu mandato o senhor quer assinar
aquele velho brasileiro, latino americano
tendo que escolher entre a cretina e o tucano
dinheiro some, eu to com fome
por isso me expresso com um fone e o microfone
prego nas palavras um sonho de liberdade
que sem dificuldade se aplicaria na cidade
revolução urbana, mental e social
enquanto eu vou rimando o falador já passa mal
passa a me odiar, já estava a me julgar
mas nunca vai me parar e ainda estou só a começar
nasci pra esse jogo, não sou mais nenhum tolo
sou mais um desse bolo, nasci com a mão no fogo
o mundo já foi do povo e é hora de ser de novo.

Imagem:Leonardo Shneider
Texto: Johnny Bertoni                         

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sábias palavras




Killing us one by one
In one way or another
American will find a way to eliminate the problem
One by one
The problem is
the troubles in the black youth of the ghettos
And one by one
we are being wiped off the face of this earth
At an extremly alarming rate
And even more alarming is the fact
that we are not fighting back
Brothers, sistas, niggas
When I say niggas it is not the nigga we are grown to fear
It is not the nigga we say as if it has no meaning
But to me
It means Never Ignorant Getting Goals Acomplishes, nigga
Niggas what are we going to do
Walk blind into a line or fight
Fight and die if we must like niggas




This is for the masses the lower classes
The ones you left out, jobs were givin', better livin'
But we were kept out
Made to feel inferior, but we're the superior
Break the chains in out brains that made us fear yah
Pledge a legiance to a flag that neglects us
Honour a man that who refuses to respect us
Emmancipation, proclamation, Please!
Nigga just said that to save the nation
These are lies that we all accepted
Say no to drugs but the governments' keep it
Running through our community, killing the unity
The war on drugs is a war on you and me
And yet they say this is the Home of The Free
But if you ask me its all about hyprocracy
The constitution, Yo, it don't apply to me
Lady Liberty still the bitch lied to me
Steady strong nobody's gonna like what I pumpin'
But its wrong to keeping someone from learning something
So get up, its time to start nation building
I'm fed up, we gotta start teaching childern
That they can be all that they wanna to be
There's much more to life than just poverty
This is defaintly ahhh words of wisdom
AMERIKA, AMERIKA, AMERIKKKA
I charge you with the crime of rape, murder, and assault
For suppressing and punishing my people
I charge you with robery for robbing me of my history
I charge you with false imprisonment for keeping me
Trapped in the projects
And the jury finds you guilty on all accounts
And you are to serve the consequences of your evil schemes
Prosecutor do you have any more evidience



Words of Wisdom
They shine upon the strength of an nation
Conquer the enemy on with education
Protect thy self, reach with what you wanna do
Know thy self, teach what we been through
On with the knowledge of the place, then
No one will ever oppress this race again
No Malcolm X in my history text
Why is that?
Cause he tried to educate and liberate all blacks
Why is Martin Luther King in my book each week?
He told blacks, if they get smacked, turn the other cheek
I don't get it, so many questions went through my mind
I get sweated, They act as if asking questions is a crime
But forget it, one day I'm gonna prove them wrong
Now every brother had to smother on the welfare line
The american dream, though it seems it attainable
They're pulling your sleave, don't believe
Cause it will strangle yah
Pulling the life of your brain, I can't explain
Beg as you can obtain from which you came
Swear that your mother is living in equality
Forgeting your brother that's living her apology
Thought they had us beat when they took our kids
But the battle ain't over till the black man sings
Words of Wisdom
But the battle ain't over till the black man sings
Words of Wisdom



NIGHTMARE thats what I am
America's nightmare
I am what you made me
The hate and evil that you gave me
I shine of a reminder of what you have done to my people
for Four hundred plus years
You should be scared
You should be running You should be trying to silence me ha ha But you can not escape fate Well it is my turn to come
Just as you rose you shall fall
By my hands
Amerika, You reap what you sow 2pacalypse America's Nightmare
Ice Cube and Da Lench Mob America's Nightmare
Above the Law America's Nightmare
Paris America's Nightmare
Public Enemy America's Nightmare
Krs-One America's Nightmare
Mutulu Shakur America's Nightmare
Geronimo Pratt America's Nightmare
Assada Shakur America's Nightmare

domingo, 8 de agosto de 2010


       Categorias são nosso instrumento de pensar. São conceitos, nomes pelos quais a gente classifica, ordena e atribui valor a tudo aquilo com que se entra em contato. No começo, bom e mau são categorias básicas mesmo, porque derivam dos aferidores fundamentais (que afundam) da nossa consciência: prazer e desprazer.
[...]
       "Mais ou menos" e "ainda não sei" estão aparecendo como categorias intermediárias, em aberto, observadoras, curiosas, sem o descarte nem a adesão automáticos que os julgamentos sumários produziam. Categorias intermediárias são as categorias do ensaio. Possibilitam o pensamento, a reflexão, não fecham, deixam em aberto, podem ser revistas, refeitas, não são absolutas, arrogantes, não damos a elas a importância de dogmas, por isso elas é que nos servem, não temos que servir a elas.
       Só que a cultura acaba impondo novos critérios de bom/mau quando diz que determinadas coisas dão premio, aplauso, torrão de açúcar e outras dão castigo, desprezo, chibatadas, o que acaba por fazer com que desempenhemos funções desprazerosas só pra evitar a chibatada e ganhar torrão de açúcar. Nessa nova escala de valores o "mais ou menos" e o "ainda não sei" se perdem, porque é preciso decidir logo, fechar logo, aderir logo ou se descartar logo, se o resultado pode ser prêmio ou castigo.

Imagem: vinchen
Texto: Francisgo Daudt no livro O Aprendiz do Desejo

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

antes perder nossas certezas que ficar sem nossas duvidas

Não há nada que diferencie tanto a sociedade ocidental de nossos dias das sociedades mais antigas da Europa e do Oriente do que o conceito de tempo. Tanto para os antigos gregos e chineses quanto para os nômades árabes ou para o peão mexicano de hoje, o tempo é representado pelos processos cíclicos da natureza, pela sucessão de dias e noites, pela passagem das estações. Os nômades e os fazendeiros costumavam medir - e ainda hoje o fazem - seu dia do amanhecer até o crepúsculo e os anos em termos de tempo de plantar e de colher, das folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios. O homem do campo trabalhava em harmonia com os elementos, como um artesão, durante tanto tempo quanto julgasse necessário. O tempo era visto como um processo natural de mudança e os homens não se preocupavam em medi-lo com exatidão. Por essa razão, civilizações que eram altamente desenvolvidas sob outros aspectos dispunham de meios bastante primitivos para medir o tempo: a ampulheta cheia que escorria, o relógio de sol inútil num dia sombrio, a vela ou lâmpada para onde o resto de óleo ou cera que permanecia sem queimar indicava as horas. Todos esses dispositivos forneciam medidas aproximadas de tempo e tornavam-se muitas vezes falhos pelas condições do clima ou pela inabilidade daqueles que os manipulavam. Em nenhum lugar do mundo antigo ou da Idade Média havia mais do que uma pequeníssima minoria de homens que se preocupassem realmente em medir o tempo em termos de exatidão matemática.

O homem ocidental civilizado, entretanto, vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas de uvas. E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina.

(...) A princípio, esta nova atitude em relação ao tempo, este novo ritmo imposto à vida foi ordenado pelos patrões, senhores do relógio, e os pobres o recebiam a contragosto. E o escravo da fábrica reagia, nas horas de folga, vivendo na caótica irregularidade que caracterizava os cortiços encharcados de gim dos bairros pobres no início da era industrial do século XIX.

Os homens se refugiavam no mundo sem hora marcada da bebida ou do culto metodista. Mas aos poucos, a idéia de regularidade espalhou-se, chegando aos trabalhadores. A religião e a moral do séc. XIX desempenharam seu papel, ajudando a proclamar que "perder tempo" era um pecado. A introdução dos relógios, fabricados em massa a partir de 1850, difundiu a preocupação com o tempo entre aqueles que antes se haviam limitado a reagir ao estímulo do despertador ou à sirene da fábrica. Na igreja e na escola, nos escritórios e nas fábricas, a pontualidade passou a ser considerada como a maior das virtudes.

E desta dependência servil ao tempo marcado nos relógios, que se espalhou insidiosamente por todas as classes sociais no séc. XIX, surgiu a arregimentação desmoralizante que ainda hoje caracteriza a rotina das fábricas.

O homem que não conseguir ajustar-se deve enfrentar a desaprovação da sociedade e a ruína econômica - a menos que abandone tudo, passando a ser um dissidente para o qual o tempo deixa de ser importante. Refeições feitas às pressas, a disputa de todas as manhãs e de todas as tardes por um lugar nos trens e nos ônibus, a tensão de trabalhar obedecendo horários, tudo isso contribui, pelos distúrbios digestivos e nervosos que provoca, para arruinar a saúde e encurtar a vida dos homens.

Nem se poderia afirmar que a imposição financeira da regularidade de horários tenha contribuído a longo prazo para o aumento da eficiência. Na verdade, a qualidade do produto parece ter até diminuído, pois o empregador que vê o tempo como uma mercadoria pela qual tem de pagar obriga o operário a trabalhar numa velocidade tal que a produção forçosamente será de qualidade inferior. O critério passa a ser de quantidade e não de qualidade e já não há mais o prazer do trabalho pelo trabalho. O trabalhador transforma-se, por sua vez, num especialista em "olhar o relógio", preocupado apenas em saber quando poderá escapar para gozar suas escassas e monótonas formas de lazer que a sociedade industrial lhe proporciona; onde ele, para "matar o tempo", programará tantas atividades mecânicas com tempo marcado, como ir ao cinema, ouvir rádio e ler jornais, quanto permitir o seu salário e o seu cansaço. Só quando se dispõe a viver em harmonia com sua fé ou com sua inteligência é que o homem sem dinheiro consegue deixar de ser um escravo do relógio.

George Woodcock

terça-feira, 3 de agosto de 2010

LSD-25

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Batalha de Seattle



this is how democracy looks like.

Poucas opções



nacionalismo é a nossa forma de incesto, é a nossa idolatria, é a nossa insanidade. "Patriotismo" é o seu culto.


Imagem: RIZO
Texto:  Erich Fromm