Deixem que explodam
em milhões de pedaços
As estátuas malditas
as eternas visitas
de notórios palhaços
Deixem que afundem
no mar da ganância
maltratam, desprezam
sorriem depois rezam
pra que chege a ambulância
Deixe que se quebre
a algema de ouro
que estuprou seu tempo
tu achou que foi rápido
não sabe o quanto foi lento
como foi o matadouro?
Deixe que queime
afinal ninguém teme carvão
Escravizando minha gente
demente e contente
pois ganhou o presente
de servir ao patrão
Formando uma colônia
leais suditos, um tanto estúpidos
ajudando cegamente os corruptos
da chamada babilônia
por:Leprexal
Foto: da raça
sábado, 30 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Ônibus das 6
6 horas da tarde, ela, mãe de família e mais de 20 almas, umas em pé, fritando seus miolos moles no sol escaldante de verão, outras cozinhando de dentro pra fora naquele ponto de ônibus que mais parecia um instrumento público de tortura. Como se deixar seu próprio filho em casa para trabalhar mais de 10 horas por dia cuidando do filho de outra mãe não fosse duro o bastante.
O ônibus demora a chegar, entre os pecadores estão, velhas e velhos, jovens e moribundos, trabalhadores, prostitutas, religiosos, crianças de colo, pedreiros, vagabundos e empregadas, mas dentro do transporte público, toda esta formalidade e rotulação desnecessária não tem a menor importância, são todos sardinhas de bolsos cheios.
Chega a lotação, e ele vem explodindo de gente, cheio de mais e mais almas zumbis encontradas em muitos outros fornos urbanos espalhados pela cidade. As pessoas caminham para dentro, em fila indiana, como um rebanho de vacas amestradas, prontas para o abate. Lá, ela já sabe o que a espera, é o mesmo destino de muitos ali, uma viajem longa e cansativa até em casa, se debatendo uns aos outros tentando se manter em pé e ao mesmo tempo se esquivando da angústia da espera. Logo mais a frente vê-se mais uma fornalha pronta para embarcar no expresso enlatado. Obviamente, aquilo estava lotado, mas não o bastante para a empresa, afinal, quanto mais e mais vacas entrarem, maior o churrasco do fim de semana.
Tato Leprexa
terça-feira, 26 de outubro de 2010
O Bixo
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Texto: Manuel Bandeira
Fotos: Sebastião Salgado
Realidade InTensa
Quem sou eu para te cantar, favela,
que cantas em mim e para ninguém a noite inteira de sexta
e a noite inteira de sábado
e nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro: baixou a mim, na vibração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
Decoro teus nomes. Eles
jorram na enxurrada entre detritos
da grande chuva de janeiro de 1966
em noites e dias e pesadelos consecutivos.
Sinto, de lembrar, essas feridas descascadas na perna esquerda
chamadas Portão Vermelho, Tucano, Morro do Nheco,
Sacopé, Cabritos, Guararapes, Barreira do Vasco,
Catacumba catacumbal tonitruante no passado,
e vem logo Urubus e vem logo Esqueleto,
Tabajaras estronda tambores de guerra,
Cantagalo e Pavão soberbos na miséria,
a suculenta Mangueira escorrendo caldo de samba,
Sacramento... Acorda, Caracol. Atenção, Pretos Forros!
O mundo pode acabar esta noite, não como nas Escrituras se estatui.
Vai desabar, grampiola por grampiola,
trapizonga por trapizonga,
tamanco, violão, trempe, carteira profissional, essas drogas todas,
esses tesouros teus, altas alfaias.
Vai desabar, vai desabar
o teto de zinco marchetado de estrelas naturais
e todos, ó ainda inocentes, ó marginais estabelecidos, morrereis
pela ira de Deus, mal governada.
Padecemos este pânico, mas
o que se passa no morro é um passar diferente,
dor própria, código fechado: Não se meta,
paisano dos baixos da Zona Sul.
Tua dignidade é teu isolamento por cima da gente.
Não sei subir teus caminhos de rato, de cobra e baseado,
tuas perambeiras, templos de Mamalapunam
em suspensão carioca.
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
medo só de te sentir, encravada
favela, erisipela, mal-do-monte
na coxa flava do Rio de Janeiro.
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
Nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
Vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
Texto: Carlos Drummond de Andrade, no poema "Favelário Nacional"
Fotos: Ayrton de Magalhães ( Decada de 80, Rio de Janeiro)
Abolição do poder
É necessário abolir completamente e em principio e na prática tudo o que possa ser chamado de “poder político”, por mais tempo que esse poder político dure, a sua existência implicará sempre ter governadores e governados, patrões e escravos, exploradores e explorados.
Arte: Gastón Viñas
Texto: Mikhail Bakunin
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
We feed the world, subtitulos en español. Every day in Vienna the amount of unsold bread sent back to be disposed of is enough to supply Austria's second-largest city, Graz. Around 350,000 hectares of agricultural land, above all in Latin America, are dedicated to the cultivation of soybeans to feed Austria's livestock while one quarter of the local population starves. Every European eats ten kilograms a year of artificially irrigated greenhouse vegetables from southern Spain, with water shortages the result. In WE FEED THE WORLD, Austrian filmmaker Erwin Wagenhofer traces the origins of the food we eat. His journey takes him to France, Spain, Romania, Switzerland, Brazil and back to Austria. Leading us through the film is an interview with Jean Ziegler, the United Nations Special Rapporteur on the Right to Food. This a film about food and globalisation, fishermen and farmers, long-distance lorry drivers and high-powered corporate executives, the flow of goods and cash flow–a film about scarcity amid plenty. With its unforgettable images, the film provides insight into the production of our food and answers the question what world hunger has to do with us . Interviewed are not only fishermen, farmers, agronomists, biologists and the UN's Jean Ziegler, but also the director of production at Pioneer, the world's largest seed company, as well as Peter Brabeck, Chairman and CEO of Nestlé International, the largest food company in the world.
Lado B
Barbudo
Brabo
Barrigudo
Assim era Burgos
Que apesar do nome
Nada tinha de burguês
Adorava caminhar
Durante as frias madrugadas
De Buenos Aires
Em busca de um bar
De Blues
Apreciava-lhe
O som do bandolim
As botillas de vino
E o cortejar
Das belas porteñas
Preferia as bundudas
Mesmo que nem sempre tão bondosas
Para ele,
Sempre belas
E quando estava baixo-astral
Lia poemas de Borges
Ia à Bombonera
Assistir ao Boca Juniors
Ou corria atrás de algum boquete
Em algum bacanal
Bissexual
Ultima vez que o vi
Estava bêbado
À beira de um precipício
(Ou seria de um princípio?)
Ouvindo Beatles
No lado B
Gritei:
-Babaca! Bisbilhotando a morte?
Ele só bocejou. E Bluft!
poesia: Raul Machado COLETIVO ARTERIZAR
pois então, Raulzito está com um livro de poesias a venda,
vamo divulgar a arte do cara, quem se interessar pelo livro só entrar no blog do coletivo ao qual ele integra.
Barbudo
Brabo
Barrigudo
Assim era Burgos
Que apesar do nome
Nada tinha de burguês
Adorava caminhar
Durante as frias madrugadas
De Buenos Aires
Em busca de um bar
De Blues
Apreciava-lhe
O som do bandolim
As botillas de vino
E o cortejar
Das belas porteñas
Preferia as bundudas
Mesmo que nem sempre tão bondosas
Para ele,
Sempre belas
E quando estava baixo-astral
Lia poemas de Borges
Ia à Bombonera
Assistir ao Boca Juniors
Ou corria atrás de algum boquete
Em algum bacanal
Bissexual
Ultima vez que o vi
Estava bêbado
À beira de um precipício
(Ou seria de um princípio?)
Ouvindo Beatles
No lado B
Gritei:
-Babaca! Bisbilhotando a morte?
Ele só bocejou. E Bluft!
poesia: Raul Machado COLETIVO ARTERIZAR
pois então, Raulzito está com um livro de poesias a venda,
vamo divulgar a arte do cara, quem se interessar pelo livro só entrar no blog do coletivo ao qual ele integra.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
on the road
[...] Ela tinha capotado finalmente, e jazia deitada num banco de
madeira com as pernas brancas aparecendo sob a combinação de seda. A platéia
da janela aproveitou-se da exibição; por trás deles, as sombras rubras do fim da
tarde começavam a se alongar, e ao longe ouvi o choro de um bebê num súbito
instante de silêncio — afinal, eu estava no México e não no paraíso, em meio a
uma orgia pornográfica de haxixe e fantasias realizadas.
Cambaleamos porta afora, mas nos esquecemos de Stan; corremos de
volta para apanhá-lo, e o encontramos cumprimentando charmosamente as putas
da noite que estavam começando a chegar. Ele queria começar tudo de novo.
Quando está bêbado, ele se move tão pesadamente quanto um homem de três
metros de altura, e é impossível separá-lo de mulheres. Especialmente mulheres
enroscadas em seu pescoço como hera no jardim. Ele insistia em ficar — queria
experimentar as novas, estranhas e por certo mais experientes señoritas do turno
da noite. Dean e eu o agarramos pelo cangote e o arrastamos para fora. Ele
acenou profusamente, despediu-se de todos com a maior euforia — das garotas,
dos policiais, da multidão, das crianças nas calçadas; jogou beijos em todas as
direções, sob ovações de toda a cidade de Gregoria, e, cambaleando
orgulhosamente entre a multidão, tentou falar para transmitir-lhes sua alegria e
seu amor por tudo o que fora maravilhosamente bom naquele delicioso entardecer
da vida. Todos riam; alguns lhe davam tapinhas nas costas. Dean correu,
deu quatro pesos para os policiais, apertou-lhes as mãos, sorriu-lhes e inclinou a
cabeça diante deles. Então, saltou no carro, e as garotas que havíamos
conhecido, até Venezuela, que havia acordado especialmente para a despedida,
se aglomeraram em torno do carro, insinuantes em suas vestes transparentes, e
nos deram adeus e nos beijaram, e Venezuela até chorou — ainda que não por
nós, mas também um pouco por nós, e isso já era suficiente. Meu amor moreno e
obscuro desaparecera no interior sombrio do bordel. Estava tudo acabado.
Caímos fora e deixamos a alegria e as celebrações para trás, recobertas por
centenas de pesos, e de fato aquilo não parecia ter sido um mau dia de trabalho.
O mambo obsessivo nos acompanhou durante uns quarteirões. Estava tudo
acabado. — Adeus, Gregoria! — gritou Dean, jogando beijos.
Victor estava orgulhoso de nós e orgulhoso de si próprio. — Agora vocês
querem um banho? —- ele perguntou. Sim, todos nós queríamos um bom banho.
E ele nos conduziu para o lugar mais estranho do mundo: [...]
Jack Kerouac
sábado, 9 de outubro de 2010
Ou luxo ou lixo
eu prego a emancipação do raciocínio da nação
observando meu próprio ser eu me elevo, me ilumino
partindo do que sinto, tornando-me divino
talvez eu seja um fudido, sonhador iludido
o sonho se mantém vivo, taxado subversivo
enxergo na minha mente, de repente o meu destino
mesclando Marley, Da Vinci e 2pac no meu hino
aprendendo a viver que se aprende a morrer
e a se desprender, sei que vou perecer
pode até parecer que nunca vai acontecer
pra não se arrepender, comece a prever
Impérios foram construídos, gerando famintos
em breve serão extintos, criando novos mitos
enquanto formos mortos vivos, dias serão perdidos
direitos esquecidos de almas sem abrigos
estamos presos a correntes invisíveis ao olhar
é uma questão de tempo até poder se libertar
um novo dia irá raiar pro povo despertar
que é pra propulsionar a arte de poder amar
seus pecados perdoar e milagres realizar
Imagem: Catatau
Texto: Storvo
Texto: Storvo
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
Álvoro de Campos
imagem: “Leap into the Void” (fotomontagem de 1960 pensada – e protagonizada - por Yves Klein.)
domingo, 3 de outubro de 2010
Múmia Moderna
Vamos lá, aperte o botão
ligue a maquina da enganação
com ela não existe discussão
seus raios metamórficos
causam cegueira mental
e também alienação
Aparelho ilusório, mídia manipulada
o que você vê na tela? uma mentira escancarada
a antena parabólica ri e acha graça
enquanto você senta e só absorve a desgraça
roubando seu dinheiro, administrando suas vidas
como um bando de cordeiros suicidas
Se engane, não explane, se passe por idiota
depois sorria quando seu cérebro sair por aquela porta
cena hilariante, porem convulsionante
na sua cara o semblante, estúpido o bastante
fazendo conclusões insignificantes e finalmente
quando sua mente estiver completamente flácida
desligue-se da tomada, sua cabeça? uma lástima
Pegue seu cérebro, mole e liquefeito
guarde em um pote e feixe direito
para todos os efeitos, não deixe nem uma fresta
você não vai gostar do cheiro fétido que infesta
da pra sentir de longe, é cheiro de contentamento
apesar do odor ser parecido com o de excremento
depois disso feito, sinta-se honrado
acaba de ser mais um manipulado
Aperte o botão! aceite minha proposta
esperarei ansioso por uma resposta
mesmo tendo em vista, que esta não virá
pois tudo que você falar
não passará de uma enorme bosta.
ligue a maquina da enganação
com ela não existe discussão
seus raios metamórficos
causam cegueira mental
e também alienação
Aparelho ilusório, mídia manipulada
o que você vê na tela? uma mentira escancarada
a antena parabólica ri e acha graça
enquanto você senta e só absorve a desgraça
roubando seu dinheiro, administrando suas vidas
como um bando de cordeiros suicidas
Se engane, não explane, se passe por idiota
depois sorria quando seu cérebro sair por aquela porta
cena hilariante, porem convulsionante
na sua cara o semblante, estúpido o bastante
fazendo conclusões insignificantes e finalmente
quando sua mente estiver completamente flácida
desligue-se da tomada, sua cabeça? uma lástima
Pegue seu cérebro, mole e liquefeito
guarde em um pote e feixe direito
para todos os efeitos, não deixe nem uma fresta
você não vai gostar do cheiro fétido que infesta
da pra sentir de longe, é cheiro de contentamento
apesar do odor ser parecido com o de excremento
depois disso feito, sinta-se honrado
acaba de ser mais um manipulado
Aperte o botão! aceite minha proposta
esperarei ansioso por uma resposta
mesmo tendo em vista, que esta não virá
pois tudo que você falar
não passará de uma enorme bosta.
Arte e texto: Tato Leprexal
sábado, 2 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O Paraíso (por Eduardo Galeano)
Se nos portamos bem, está prometido, veremos todos as mesmas imagens e ouviremos os mesmos sons e vestiremos as mesmas roupas e comeremos os mesmos hambúrgueres e estaremos sós na mesma solidão dentro de casas iguais em bairros iguais de cidades iguais onde respiraremos o mesmo lixo e serviremos aos nossos automóveis com a mesma devoção e obedeceremos às mesmas máquinas num mundo que será maravilhoso para todo aquele que não tiver pernas nem pés nem asas nem raízes.
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