Documentários

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Aristocratico

[...] Pensou na incompreensível sequencia de mudanças que faziam a vida.
Pensou que o destino dos seres humanos, ininterpretável e mesmo assim
cheio de significação divina, era composto pela fusão de belezas, horrores e absurdos.
      E naquele jornal de micologia, acabara de ler um artigo sobre cogumelos alucinogênicos.
Ali estava mais uma coisa desconexa que viera se introduzir nesse conjunto de incosequências.
[...] Ninguém precisa ir a parte alguma. Como seria bom que todos soubesses disso.
Se apenas soubesse quem realemente sou, deixaria de proceder como penso que sou.
E se parasse de comportar como penso ser, saberia quem sou.
Se ao menos o maniqueísta que penso ser me permitisse ser o que de fato sou, o "sim" e o "não"
viveriam reconciliados na abençoada aceitação da experiência de Ser Único.
     Em religião, todas as palavras obscenas. Qualquer pessoa que se mostrasse eloquente acerca de
Buda, Deus ou Cristo, deveria ter a boca lavada com sabão carbólico.
     A aspiração de todas as religiões de eternizar soemente o "sim" em cada par de opostos é
irrealizável porque contraria a natureza das coisas. O maniqueísta isolado, que penso ser, se autocondena
a uma repetição infindável de frustrações e está em conflito permanente com outros maniqueístas
igualmente frustrados nas suas aspirações.
     Conflitos e frustrações - tema de toda e quase toda biografia.
     "Eu lhes mostro o sofrimento disse Buda, realíticamente. Porém ele também mostrou o fim do sofrimento -
o autoconhecimento, a aceitação total e a abençoada experiência de Ser Único.
    O perfeito autoconhecimento gera o Bom ser e os Bons Seres realizam uma melhor espécie de Bem.
[...] Mas não é fingindo ser outro alguém, mesmo um alguém sábio e superlativamente bom, que deixamos de
ser meros maniqueístas cegos e isolados para nos transformarmos em Bons Seres. O verdadeiro
conhecimento de quem realmente somos é que nos faz Bons; para sabermos quem realemente somos
devemos conhecer nos mínimos detalhes aquilo que pensamos ser. Desse modo, descobrimos o que essa
falsa ideia nos obriga a sentir e a fazer. Um simples momento de conhecimento claro e completo do que
pensamos ser, mas que na realidade não somos, põe um fim momentâneo ao engima maniqueísta.
    Se renovarmos esses momentos de autoconhecimento do que não somos, fazendo com que se tornem
contínuos, podemos vir a descobrir subtamente aquilo que realmente somos.
    A concentração em pensamentos abstratos e exercícios espirituais equivalem a exclusões sistemáticas
no domínio do pensameto...

Trecho retirado do livro " A ilha " de Aldous Huxley
Foto: Manu noronha

Nenhum comentário:

Postar um comentário